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Nós e nós

         Como não nos valorizarmos se a única pessoa que nos acompanha o tempo todo somos nós mesmos? Como não nos amarmos se a vida nos coloca frente a frente conosco? Como não termos a consciência de que somos   a diferença na visão do outro, mas, para sermos aceitos,  devemos nos enquadrar? Então, não há como fingirmos esquecer que somos partes de um retalho de outras histórias e somos histórias de outros retalhos também? Não há! Nossa vida é o resultado de tudo o que vivemos, fazemos e presenciamos, e nem tudo tem resposta. A vida  é tão coletiva e tão solitária quanto a roda-gigante. Por isso, os nossos monólogos são tão importantes quanto os diálogos que fazemos diariamente. 

      Nossa vida é baseada na consciência da diferença. Essa  diferença nos faz buscarmos ser iguais, tornando -nos peças nada raras de um jogo de cartas já marcado. Eis a dificuldade de sair desse jogo: fora dele, não há outras cartas que se encaixem. Frente a frente conosco, percebemos nossa singularidade perdida quando estamos com os outros, mas, longe deles,  somos cartas únicas, mas solitárias, desencaixadas de um jogo perverso construído pela sociedade que busca equalizar, desmerecer qualquer falta de encaixe. Não valorizarmos a nossa presença é abrirmos mão do prazer de  nos encantarmos conosco. O outro é ausência quase o tempo todo, mas nós não, afinal,  somos nossos companheiros mais importantes no nosso próprio jogo de cartas. Marcamos as outras cartas, escolhemo-nas mudamo-nas de lugar, jogamo-nas fora. É a regra do jogo chamada independência. Como não valorizarmos quem somos, não é? José Miguell Halffitth

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Saudades

      Saudade, sentimento que guardo das pessoas que se foram ou que já não mais perto de mim moram. Saudades das eras de ouro da minha vida. Saudades de outrora, de antigamente quando nós podíamos viver sem o medo de sermos trocados por aparelhos celulares. Saudades de tudo aquilo que nós falamos, brigamos, choramos, amamos. Saudades das visitas quase eternas de alguns bons amigos. Saudades de todos aqueles que foram importantes para  o nosso crescimento, seja emocional ou profissional.  Saudades de uma amizade que segure em nossas mãos e nos diga: "estou aqui." Saudades de mim, de ti e de nós quando, num pretérito não muito distante, éramos carentes apenas de dinheiro. Saudades dos domingos em família, quando nos reuníamos e tínhamos  a agradável sensação de estarmos num lugar nosso, de pertencimento. Saudades de uma realidade menos violenta, mais simples e menos conectada. Restam apenas saudades. José Miguell Halffitth 

Por que...?

  Por que precisamos mostrar aos outros nossas melhores roupas se as nossas melhores vestes são o nosso caráter e a nossa humildade?  Por que precisamos mostrar aos outros os nossos melhores calçados se os nossos melhores calçados são a nossa personalidade e a nossa perseverança? Por que precisamos mostrar a nossa grandeza para gente pequena se elas não conseguem entender o quão grandes somos? Por que precisamos mostrar aos outros as nossas carências se elas são depósitos vazios de afetividade e amor? Por que precisamos agradar às pessoas desagradáveis se elas são um poço de desequilíbrio e ignorância? Por que...? Por que...? Nada é grande se a alma é pequena. Tudo se apequena quando nós não conseguimos tocar positivamente no coração do outro.  José Miguell Halffitth