Como não nos valorizarmos se a única pessoa que nos acompanha o tempo todo somos nós mesmos? Como não nos amarmos se a vida nos coloca frente a frente conosco? Como não termos a consciência de que somos a diferença na visão do outro, mas, para sermos aceitos, devemos nos enquadrar? Então, não há como fingirmos esquecer que somos partes de um retalho de outras histórias e somos histórias de outros retalhos também? Não há! Nossa vida é o resultado de tudo o que vivemos, fazemos e presenciamos, e nem tudo tem resposta. A vida é tão coletiva e tão solitária quanto a roda-gigante. Por isso, os nossos monólogos são tão importantes quanto os diálogos que fazemos diariamente.
Nossa vida é baseada na consciência da diferença. Essa diferença nos faz buscarmos ser iguais, tornando -nos peças nada raras de um jogo de cartas já marcado. Eis a dificuldade de sair desse jogo: fora dele, não há outras cartas que se encaixem. Frente a frente conosco, percebemos nossa singularidade perdida quando estamos com os outros, mas, longe deles, somos cartas únicas, mas solitárias, desencaixadas de um jogo perverso construído pela sociedade que busca equalizar, desmerecer qualquer falta de encaixe. Não valorizarmos a nossa presença é abrirmos mão do prazer de nos encantarmos conosco. O outro é ausência quase o tempo todo, mas nós não, afinal, somos nossos companheiros mais importantes no nosso próprio jogo de cartas. Marcamos as outras cartas, escolhemo-nas mudamo-nas de lugar, jogamo-nas fora. É a regra do jogo chamada independência. Como não valorizarmos quem somos, não é? José Miguell Halffitth
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